O objetivo deste capítulo é apresentar os conceitos básicos que permitem a compreensão e a interpretação da avaliação audiológica básica com competência.
Uma boa audiometria requer mais do que o simples conhecimento das técnicas audiométricas e da manipulação adequada dos controles do audiômetro. Os erros podem ocorrer quando indivíduos mal treinados executam os exames sem os cuidados técnicos necessários: controle de pistas visuais, critérios de respostas inválidos, procedimentos de mascaramento incorretos, detecção da presença de artefatos no exame e registro das respostas de forma errada. Todos esses problemas mostram a dificuldade de se obter resultados válidos nos testes e enfatizam a importância do treinamento rigoroso na administração e na interpretação dos resultados dos testes audiométricos.
O fonoaudiólogo deve ser capaz de interpretar se os resultados dos testes são válidos, se a perda auditiva apresentada explica o comportamento observado, se tem outros problemas associados à perda auditiva, que outros testes auditivos devem ser indicados, quais as implicações sociais, educacionais e profissionais que essa perda pode causar, e quais os procedimentos de reabilitação são viáveis para o tipo e grau da perda auditiva.
Em termos funcionais, o sistema auditivo está dividido em: função de condução, função sensorioneural e função central. As funções de condução do estimulo sonoro são realizadas pela orelha externa e pela orelha média. As funções sensorioneurais são atribuídas às estruturas que compõe a orelha interna (cóclea e nervo auditivo), e as funções centrais são desempenhadas pelas estruturas da via auditiva central.
O estimulo sonoro pode ser transmitido por duas vias de condução: aérea ou óssea. A condução do estimulo por via aérea é realizada através dos mecanismos da orelha externa e média para as estruturas receptoras (células ciliadas) que encontram na região coclear da orelha interna. A condução do estimulo por via óssea é realizada através da vibração dos ossos cranianos diretamente para as mesmas estruturas receptoras da orelha interna.
O propósito da audiometria tonal é medir a sensibilidade auditiva em função da frequência; esta medida para diferentes frequências pode mostrar que uma pessoa consegue ouvir bem alguns sons, mas apresenta perda auditiva para outros. A aplicação da audiometria tonal pode ser realizada para a obtenção dos limiares de sensibilidade para tons puros tanto da condução aérea como da condução óssea. Para obter limiares por via aérea, o estimulo sonoro é apresentado por meio de fones. Para obter limiares por via óssea, o estimulo sonoro é apresentado por meio de vibradores ósseos.
Os símbolos audiométricos recomendados são os especificados na tabela abaixo:
A determinação dos limiares tonais por via aérea e o limiar de reconhecimento de fala (LRF) analisam a sensibilidade auditiva, demonstrando o grau de perda auditiva. Os limiares tonais por via óssea, quando comparados com os de via aérea, diferenciam o tipo de perda: condutiva, neurossensorial e mista. Já, os resultados do índice de reconhecimento de fala (IRF) permitem uma estimativa dos problemas de comunicação esperada, em função da perda auditiva.
As perdas auditivas condutivas são, em geral corrigidas e mostram perdas apenas na sensibilidade auditiva sem problemas na habilidade de reconhecimento de fala. Ocorrem na orelha externa e/ou média, podem ser causadas por fixação ou desarticulação da cadeia ossicular, efusão na orelha média, disfunção da tuba auditiva, tumor na orelha média, malformação, entre outras. Silman e Silverman determinam que uma perda auditiva condutiva esteja presente quando os limiares de condução óssea estão dentro dos limites de normalidade, existe um gap aéreo/ósseo de 15dB ou mais e os limiares de condução aérea estão fora dos limites normais (25dBNA para adultos e 15dBNA para crianças). Desta forma, a perda auditiva condutiva é caracterizada por:
· Bons limiares de condução óssea.
· Gap aéreo-ósseo significativo, mas que excede 70dB.
· Limiares alterados na condução aérea.
· Índice de reconhecimento de fala bom ou excelente.
· Timpanogramas alterados.
· O grau de perda pode variar de leve a moderadamente severo.
· Nos casos bilaterais, a pessoa tende a falar em voz baixa, pois se ouve de forma muito clara pela via óssea – devido ao efeito de oclusão que o problema condutivo produz.
As perdas auditivas sensorioneurais que ocorrem quando a lesão acomete as estruturas da orelha interna, são, em geral, irreversíveis e permanentes. Podem ser unilaterais, bilaterais, simétricas, assimétricas, flutuantes, progressivas ou súbitas. Suas causas são as mais diversas e podem ter sua origem em lesões da cóclea, do VIII nervo craniano e/ou do núcleo coclear. O quadro audiológico desse paciente pode ser bastante variado em termos de magnitude e configuração, mas alguns aspectos permanecem fixos em todos os casos:
· Reduçao dos limiares de condução óssea.
· Gap aéreo-ósseo pequeno, que não excede 10dB.
· Limiares alterados na condução aérea.
· Índice de reconhecimento de fala não previsível.
· Timpanogramas normais ou alterados
· O registro dos reflexos acústicos pode se mostrar: presentes ou ausentes.
· O grau da perda pode variar de leve a moderadamente severo.
· Nos casos de bilaterais, a pessoa tende a falar em voz alta, pois perde a capacidade de realizar o monitoramento da própria voz.
Quando os limiares da condução aérea e óssea mostram-se reduzidos, mas os valores da condução óssea são melhores que os da aérea, a perda auditiva é classificada como do tipo mista. Esse achado sugere que ocorreu algum tipo de lesão às estruturas das células ciliadas ou às terminações nervosas, causando uma redução nos limiares da condução óssea que é adicionada à redução dos limiares da condução aérea decorrente da doença ou do mal funcionamento da orelha média. O quadro audiológico caracteriza-se por:
· Redução dos limiares de condução óssea.
· Gap aéreo-ósseo pequeno, maior que 10dB.
· Limiares alterados na condução aérea.
· Timpanogramas, em geral, alterados.
· O registro dos reflexos acústicos pode se mostrar: ausentes ou presentes, mas para valores elevados.
· O grau da perda pode variar de leve a moderadamente severo.
· Nos casos de bilaterais, a pessoa tende a falar em voz alta, pois perde a capacidade de realizar o monitoramento da própria voz.
A perda auditiva central é uma forma de perda sensorialneural causada por lesão das vias auditivas. Quando a lesão ocorre no córtex auditivo primário, é denominada “surdez cortical”. Segundo Hain, o diagnóstico é feito pelo audiograma de tons puros, que costumam mostrar-se normal. Pacientes com perda auditiva central costumam apresentar comportamento auditivo inconsistente, o que pode levar ao diagnóstico errôneo de distúrbios funcionais ou psicogênicos.
Audiograma A1: Normal; A2: Condutiva; A3: Sensorioneural; A4: Mista
O audiograma também deve ser classificado segundo a configuração (curvas) audiométricas da forma como se vê a seguir14.1:
Quanto à classificação do grau da perda auditiva existem diversos critérios.
Efeitos da Perda Auditiva sobre a Habilidade de Reconhecimento da Fala
Relatório Audiológico, o propósito de um relatório audiológico é a interpretação, não a repetição dos resultados dos testes realizados. Os objetivos de um bom relatório são: interpretar os resultados, fazer recomendações baseando-se nos resultados dos testes, realizar um registro claro e preciso no prontuário do paciente.
Leilanne Viana – Monitora de Audiologia
Professora Orientadora: Joyce Coelho
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Muito bom salientar que é necessário ser fonoaudiólogo para compreender e interpretar os resultados encontrados, e como chegar a eles mais ainda. Como falado durante o resumo da importância de identificar os sinais que o paciente transmite durante o exame, para que não se caia em diagnósticos errôneos. Parece uma onda de pacientes que simulam perdas auditivas em busca do beneficio da aposentadoria. É crucial o olhar acurado para as configurações das perdas auditivas, unidas a sintomatologia relatada pelo paciente e os resultados de exames complementares que não depende do paciente para chegar ao laudo. Paciente com problemas auditivo ou simulador? É necessário resolutividade. Um paciente com perda ele precisa de procedimentos, um paciente simulador também, a conduta aplicada para cada caso vai depender da competência e da preparação. Lembrar que naquela cadeira poderia está você, ajuda a ser mais atencioso com a queixa do outro
ResponderExcluirApesar de área ter muitos detalhes, é uma das mais interessantes, pois consiste em conhecer parte do histórico do paciente e através dele,antes mesmo de se fazer o exama propriamente dito, ter hipóteses diagnósticas e posteriormente seus resultados respectivos. Confesso e agradeço, pois não conhecia o termo e o uso "mascarada na fronte", assim como a "magnitude do problema" no IPRF, pois dá clareza no raciocínio tanto na execução quanto na resolução do exame. Para mim, a mais difícil de entender é a perda central, por causa do comportamento inconsciente e posteriormente os exames sugeridos para melhor resolução.De fato, precisamos ter uma análise pré-disposta a cada caso apresentado, mas sabemos que muitas vezes o protocolo de base muda, chegando assim, muitas patologias pouco conhecidas ao nosso convívio, mas que um dia podemos nos deparar com as mesmas e precisamos estar preparadas para o correto emprego delas.
ResponderExcluirO texto foi muito bem escrito, com uma linguagem de fácil compreensão, principalmente para os estudantes que estão iniciando agora o cuso. Sobre o texto elaborado,na parte que fala que "uma boa audiometria requer mais do que o simples conhecimento das técnicas audiométricas e da manipulação adequada dos controles do audiômetro", concordo plenamente devido o exame de audiometria ser um exame subjetivo, onde depende da resposta do paciente. Também para se ter resultados fidedignos, o examinador deve ter pleno conhecimento de todas as etapas e dos possíveis resultados do exame. O exame de audiometria tonal tem o objetivo de identificar o menor limiar de audibilidade para cada frequência pesquisada. Para um resultado preciso e confiável deve-se instruir bem o paciente, o examinador deve ter habilidade, observar as condições físicas do paciente e a motivação emocional e a inteligência e atenção ao exame. Assim o exame poderá ser conduzido bem e sem problemas.
ResponderExcluirConcordo quando a Mara Fádua cita que para se ter um resultado fiél para a audiometria, quem deve realizar esse exame é o Fonoaudiólogo, devido ter estudado, se preparado e ser um profissional mais capaz e habilitado para uma maior precisão dos resultados. Pois realmente hoje em dia muitos pacientes resolvem fazer esse exame para conseguir benefícios, sendo assim pacientes simuladores, dando resultados totalmente incompatíveis da audiometria com a logoaudiometria, imitânciometria e pesquisa dos reflexos estapédianos. Sobre a pergunta feita pela Mara Fádua, sabemos que esses pacientes "simuladores" podem sim ter uma perda auditiva e na maioria das vezes tem, mas muitos querem dizer ter um tipo e grau de perda pior. Mas também concordo que temos que ficar atentos ao paciente como um todo, desde a anamnese ao resultados dos exames, para assim analisarmos tudo e chegarmos a uma conclusão que não venha prejudicar o paciente, nem a conduta que o mesmo deseja levar para conseguir o possível benefício.
ResponderExcluirVale salientar também a importância do profissional(fonoaudiólogo)em dar as devidas orientações, quando no caso, o paciente apresentar uma perda auditiva relevante, sendo indicativo de uso de AASI. Falar dos benefícios, cuidados e a manutenção do aparelho é de grande valia, pois o paciente deseja que a sua vida continue normal, além de desmistificar o preconceito com o uso do mesmo, reavaliando a audição e o aparelho periodicamente, aumentando a qualidade de vida.
ResponderExcluirQuando o fonoaudiólogo tem conhecimento da anatomofisiologia da audição, ele compreende os achados, embora seja atribuido a esse profissional obter os resultados por meios de testes e aparelhos.Não cabe a ele discutir sobre,porem o que o torna diferente de um técnico é esse conhecimento sobre a anatomofisiologia.
ResponderExcluirAdorei o texto, realmente foi muito bem escrito. Também concordo com a Mara Fádua, onde esta cita que quem deve realizar a audiometria é Fonoaudiólogo. Pois é um teste subjetivo, ou seja, é um teste que depende da resposta do paciente, e detecta qualquer anormalidade auditiva permitindo medir o seu grau e tipo de alteração, assim como orienta as medidas preventivas ou curativas a serem tomadas, evitando assim o agravamento. Vejo então isso como papel do fonoaudiólogo.
ResponderExcluirEste texto muito bom e lembrando que audiologia é a ciência da audição que estuda o processo auditivo normal e de seus distúrbios (Bess e Humes, 1998;
ResponderExcluirKatz, 1989). A sensibilidade auditiva inicialmente foi estudada pela psicoacústica
E a Psicoacústica e o que estuda a relação entre os eventos acústicos (sons)e as sensações que os mesmos provocam no indivíduo. A sensação do som é mensurada por meio dos métodos de medida já estabelecidos.
ResponderExcluirConcordo com as colegas acima, o texto foi muito bem escrito, está de fácil entendimento mesmo para aqueles que ainda estão no inicio do curso,
ResponderExcluire que só o fonoaudiólogo está habilitado para fazer esse teste.
"O fonoaudiólogo deve ser capaz de interpretar se os resultados dos testes são válidos, se a perda auditiva apresentada explica o comportamento observado, se tem outros problemas associados à perda auditiva, que outros testes auditivos devem ser indicados, quais as implicações sociais, educacionais e profissionais que essa perda pode causar, e quais os procedimentos de reabilitação são viáveis para o tipo e grau da perda auditiva."
ResponderExcluirApesar da área ser cheia de detalhes, gosto muito, e é muito prazeroso fazer esse exame e saber distinguir tudo que foi citado acima.