Orientações domiciliares
· A motivação, a compreensão e o apoio da família nos mais diversos aspectos são fundamentais para que o paciente manifeste e mantenha o interesse em executar o que foi prescrito.
· Por mais incompreensível que seja a fala do paciente, devemos nos dirigir ao afásico sempre demonstrando tranqüilidade. Sua dificuldade para a comunicação pode piorar caso ele perceba que seu interlocutor está ansioso por sua resposta.
· Quando o paciente apresentar um bloqueio ou sentir dificuldade para iniciar a fala, deve-se auxiliar a comunicação dando “pistas” ou “dicas”, não falar por ele nem corrigir.
· Não deixar que ele permaneça em ambientes tumultuados caso não tenha certeza que ele se sente à vontade. Freqüentemente, sua dificuldade para compreender o que outros falam pode piorar nestes locais por confundir as informações dos indivíduos conversando.
· Em uma festa de família ou qualquer evento onde várias pessoas poderão dirigir-se ao afásico, ele deverá contar com algum acompanhante já bastante adaptado ao problema da linguagem para auxiliar a comunicação.
· Informar aos parentes e amigos para que não façam visitas em grupo, principalmente após o período inicial e mais crítico da doença, pois o paciente pode ficar bastante ansioso por não conseguir comunicar-se com um grupo. Solicitar que façam visitas individuais.
· O paciente poderá apresentar, após a lesão, um comportamento instável. Poderá apresentar choro freqüente, riso incontrolado, agressividade, irritação, depressão ou falta de iniciativa. Deve-se entender que a maior parte destas reações fogem a sua vontade, são decorrentes do distúrbio neurológico. Pode-se adequar sua conduta naquele momento desviando sua atenção do que tenha desencadeado o problema.
· Logo após a fase crítica, podemos perceber alterações da memória associadas ao distúrbio da linguagem. O paciente poderá recuperar completamente a memória e permanecer com a comunicação deficiente ou recuperar a linguagem e permanecer com deficiências na memória. Tudo dependerá do tipo de lesão cerebral.
· Associado ao quadro, o paciente afásico também poderá apresentar distúrbios dos movimentos nos membros superiores e inferiores de um mesmo lado (hemiplegia).
· A recuperação deste aspecto motor nem sempre estará associada à reabilitação da comunicação, isto é, o paciente poderá ter melhora nos movimentos e manter uma limitação mais grave na linguagem.
· Em relação aos familiares que convivem com o paciente, deve-se lembrar que não deixem transparecer seu compadecimento como por exemplo: chorar ou fazer observações de comiseração pelo paciente. Estas reações podem deixá-lo desestimulado a manter contato com outras pessoas.
· Mesmo que ele não tenha boa compreensão, não faça comentários que possam perturbá-lo (ex.: “Ele não poderá mais dirigir!”), como também não prometa ou afirme coisas a seu respeito sem antes confirmar com os especialistas que acompanham o caso. Existe uma lesão no Sistema Nervoso Central cuja recuperação nem sempre apresentará os resultados que se espera.
· Mantê-lo sempre informado sobre os assuntos do dia a dia e participando das decisões, o máximo possível, de acordo com sua capacidade, como: escolher o passeio no fim de semana, suas refeições, roupas, entre outras preferências do paciente.
· É necessário motivá-lo para realizar as atividades que executava antes do problema como: auxiliar na lista de compras do supermercado, na organização das despesas da casa ou tarefas que ele mesmo venha a sugerir, sempre com supervisão cuidadosa.
· Seu familiar afásico deve ser tratado de acordo com sua idade e da forma mais natural possível. Apesar de estar mais dependente, até mesmo para a higiene pessoal ou alimentação, não significa que necessite ser abordado como uma criança.
· Os pacientes que são bilingües (falam duas línguas), geralmente recuperam a língua materna primeiro, podendo levar algum tempo para recuperar o português.
· Mas isto não é regra, alguns pacientes recuperam ou recorrem mais facilmente à língua estrangeira.
· Situações em que o paciente poderá fazer escolhas como: as roupas que deseja vestir, na preferência do lanche, na programação da televisão, entre outros, devem sempre ser apresentadas a ele pois, mesmo não tendo uma boa compreensão, o paciente tem “noção” idéia do assunto e é importante que se sinta responsável pela escolhas de suas atividades.
· Nos estágios iniciais ou em casos nos quais se tenha certeza de que o afásico não compreende o que se fala, devem ser utilizadas frases curtas e objetivas para perguntar algo. Como já foi citado anteriormente, aponte ou segure o objeto sobre o qual quer perguntar.
· Da mesma forma, caso o paciente não consiga dizer o nome dos objetos e queira alguma coisa, aponte ou apresente a ele aquilo que você entende que ele esteja querendo, dizendo o nome ou escrevendo (ou as duas coisas), caso ele leia palavras simples, tenha sempre à mão uma prancheta com papel e lápis.
· Dependendo do comprometimento da expressão oral do paciente, deve-se auxiliar simplificando as perguntas para facilitar as respostas. Formulam-se perguntas que ele possa responder apenas com “sim” ou “não”, permitindo-se que expresse mais palavras, caso tenha interesse.
· Mesmo que o paciente não consiga falar as palavras corretamente, não corrigir, ao contrário, incentivá-lo continuando a “conversa” (se você conseguir compreender, já é o suficiente). Deve-se lembrar que ele está fazendo um grande esforço para se comunicar.
· Existem vários momentos em que se pode “trabalhar” a linguagem. Por exemplo, antes da refeição, solicitar que o paciente escolha, como conseguir, o que gostaria de comer; após a refeição, estimular para que comente sobre o que gostou de comer, para escolher o que deseja comer na próxima refeição; permitir que ele escolha a roupa que deseja vestir; ao manusear seus objetos pessoais, incentive-o a contar sobre eles, quando comprou, se foi presenteado, entre outros aspectos. É importante que sejam aspectos bastante concretos aproveitando as atividades do dia-a-dia e da vivência do paciente.
· Usar fotografias, principalmente aquelas que trazem lembranças divertidas ou situações que ele goste de relembrar. Não utilizar nenhuma recordação que o deixe ansioso ou deprimido. Poderá ocorrer um efeito contrário daquele que se espera, ou seja, o afásico poderá negar-se a falar.
· As atividades deverão ser modificadas a cada dia (com temas diferentes) para evitar que o paciente apenas “decore” as palavras ou a frases.
· Caso o paciente apresente um déficit severo da compreensão, não utilize palavras que não expliquem a situação concreta ou descreva claramente o objeto, por exemplo, evite usar preposições ou advérbios (em, dentro, ao redor, além, embora, etc.) sem a presença de algum gesto que as represente.
· Quando for possível, embora sem exageros, procure gesticular e criar mímicas para interpretar aquilo que descreve dentro da atividade. O apoio visual facilita a compreensão por parte do paciente.
· Não interromper se ele usar mímica ou gestos em demasia para comunicar-se. Provavelmente, é a única ou a melhor forma que consegue expressar seus desejos no momento. Manter-se paciente e compreensivo.
· Também é importante manter a tranqüilidade quando ele estiver “contando” algo, mesmo que as frases sejam bastante incompreensíveis. Aprenda a analisar toda a sua expressão: face, mãos, braços, palavras confusas, jargão (fala sem sentido).
· Se possível, não demonstrar que não está compreendendo logo no início da fala para que não se negue a continuar falando. Após ele iniciar, quando estiver fluindo mais, interromper com delicadeza auxiliando em seus bloqueios, dando “dicas”, fazendo perguntas sobre o assunto para confirmar se é aquilo que o paciente quer dizer.
· Criar situações para que ele se manifeste, quanto mais tentar falar, maior será o “exercício”. À medida que vai evoluindo clinicamente, o paciente fica mais consciente de seus erros e tenta adequar seu padrão de fala.
· Caso ele não compreenda definitivamente o que você quer perguntar ou contar, aguarde alguns momentos e aborde de outra maneira. Insistir poderá deixá-lo ansioso ou deprimido.
· Se o paciente tem capacidade para a leitura, apresentar palavras importantes para o seu convívio como: nomes dos familiares, objetos do seu interesse ou uso diário, alimentos, entre outros. Usar letras de forma e escrever em folhas que ele tenha acesso quando quiser.
· Algum erro cometido pelo afásico poderá realmente ser engraçado, mas não se deve criticar nem rir de seus esforços, ele ficará inibido em tentar novamente, prejudicando a reeducação.
· À medida que você perceber progressos na reabilitação, diminua o seu auxílio para que o paciente se torne cada vez mais independente.
Estas são apenas algumas das orientações que se sugere para familiares e cuidadores. Como já descrito, a abordagem e os procedimentos devem ser adequados a cada caso e de acordo com as possibilidades da família. Além disso, em caso de dúvidas, sempre consultar os especialistas que acompanham o paciente para o manejo de sua comunicação.
Simone A. Finard de Nisa e Castro*
Antonio Cardoso dos Santos**
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